quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Solteira (o) em São Paulo

Para alguns, é sinônimo de desespero. Para outros, de liberdade (?). Vou explicar. É incrível como algumas pessoas ficam inquietas após o término de um namoro. Entendo que para cada relacionamento exista uma particularidade que também influencia quando tudo acaba. Dependendo dos motivos e da situação, a parte que mais sofre não vai querer ficar em casa lamentando o que passou e chorando sobre as fotos, as cartas e as canções que fazem lembrar o amor que se foi.

E ai está o problema. Aonde ir? Existem milhares de publicações que dizem “Os melhores lugares em São Paulo para encontrar pessoas solteiras e interessantes”. E quem disse que nós, solteiros, ou recém-solteiros, sabemos aonde ir? Aonde encontraremos alguém interessante? Nós só queremos esquecer o que passou e lembrar-se de quanto podemos ser felizes, sozinhos. E isso pode acontecer em qualquer bar da Vila Madalena, no meio do Itaim Bibi ou no bar do Zé no Tatuapé.

Quer saber quando a situação fica mais complexa? Quando você começa a achar que está no lugar errado. Segundo algumas revistas, se um intelectual quer arrumar alguém interessante, ele deve ir a uma livraria. Se você gosta de pessoas com um corpo bonito, matricule-se na Bio Ritmo da Avenida Santo Amaro. Quer um homem na casa dos 30, barbudo e que goste de rock? Vá ao Stones Music Bar ou ao O’Malley’s. E se eu quiser um intelectual, forte, que tenha barba e goste de “have you ever seen the rain”? Aonde eu devo ir?

Ser um solteiro em São Paulo é realmente uma aventura. É ver alguém atravessando um bar inteiro só para vir te conhecer e achar a atitude, no mínino, bacana. É encontrar alguém do trabalho, em um lugar inusitado, e perceber que essa pessoa é mais interessante do que você imaginava. É se dar conta de que não só os casais vão ao cinema às quartas-feiras. Os solteiros também vão. E sozinhos. E só eles sabem o quanto isso é uma delícia! Quando se é solteiro, não é regra sair de balada com amigos e amigas, transar com quem bem entender e sempre estar aberta e disponível a conhecer alguém. Vale ficar sozinho e curtir a vida do jeito que melhor lhe parecer!

Ser solteiro é muito diferente de estar solteiro. A solteirice é muito mais do que um estado físico, é um estado de espírito. É necessario que se esteja livre, leve, feliz, independente e seguro de sua situação.

A verdade é que, nós aqui, não faremos uma lista de lugares onde ir, caso queira encontrar um partidão. Não indicaremos lugares, como fazem algumas revistas ou sites:
‘’Para encontrar um intelectual:

- Livraria Cultura no Cinjunto Nacional
- Centro Cultural Vergueiro
- MASP, MAM, OCA etc etc etc’’

Para encontrar alguém legal, o (a) solteiro (a) deve estar bem com ele mesmo, estar seguro, estar feliz. Dessa maneira, no Ibirapuera, suando e correndo, ou no teatro, cinema, o bem estar vai transparecer e, com certeza, a tal pessoa interessante daquele artigo da revista vai te encontrar... E quem sabe o título de Sr. Sra. Solteiro(a) vai dar lugar a algum outro título... Ou não!

sábado, 14 de novembro de 2009

Itinerário Habitual - Parte V

veja a última viagem

"Não fale, amor. Cada palavra, um beijo a menos." Dalton Trevisan

Passaram-se alguns dias desde o último encontro entre Marina e Vitor. Ela, com aquele “querendo não querer”, seguia com seu itinerário habitual na esperança de que um descuido do acaso fizesse que os dois se encontrassem mais uma vez.
E quando isso acontecesse, ela agiria naturalmente e tentaria saber mais sobre aquele rapaz, que articulou os lábios de uma forma graciosa ao formular, erroneamente o seu nome: MARÍLIA e não Marina.
Ela ficaria extremamente encantada se ele dissesse que ouve Glen Hansard, que seus contos preferidos são de Dalton Trevisan e se indicasse um filme, seria “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”.
E ai, ambos perceberiam que têm tantas coisas boas em comum e mais uma vez ela perderia o ponto para descer e seguir o caminho de casa. Já na Paulista, andariam sem rumo enquanto conversavam sobre música e literatura. Ele a convidaria para um café ou quem sabe uma cerveja, dependendo do clima noturno. Lembrou-se que não é fã do gosto da cevada.
Voltou para a realidade a tempo de descer no ponto certo. Ele não entrou no mesmo ônibus, não entrou no tempo certo. Perdida em seu planejamento de “encontro perfeito”, Marina nem notara a ausência do rapaz, pois Vitor estava presente nas horas em que ela menos percebia.
Será que ela demorou demais?

domingo, 8 de novembro de 2009

Another sunny day

Ainda bem que parou de chover. Não aguentávamos mais ter que adivinhar qual seria a previsão do tempo para o dia seguinte, mesmo que no fundo, sabíamos que ia chover no final de tarde. Com o mal tempo que acometeu a cidade, outros assuntos também contribuíram para a impaciência nos últimos dias: trabalhos de conclusão de curso, provas cruéis e notas para reaver. E para ajudar, o trabalho corrompendo boa parte do nosso dia.
À medida que o sol reina em São Paulo (mas sem exageros, por favor), tiramos a poeira deste blog. Sabemos que não é possível escrever sobre assuntos clichês apenas para manter o Capuccino em uma temperatura agradável. Estamos nos concentrando em nossas pendências acadêmicas, que por vezes tornam-se nocivas, e ao mesmo tempo, preparando textos formidáveis para aqueles que conhecem o Capuccino Paulistano. Continuamos a embarcar no metrô todos os dias, ouvimos casos corriqueiros, criamos histórias cosmopolitas e estamos ansiosas para colocar todas essas ideias ao alcance de quem quiser apreciá-las.
Portanto, o CP não está abandonado. Apenas enfrenta um período curto de recesso e voltará ainda mais delicioso ;)

sábado, 17 de outubro de 2009

Quanto dura o amor?

Don't leave me high, don't leave me dry
O dia inteiro havia sido um caos. Nada mais havia de interessante para aquela sexta-feira. Mandei um e-mail para uma amiga, que me chamou para ir ao cinema. Escolhi ‘Quanto dura o amor?’. Nome sugestivo...

O filme conta histórias de amor distintas entre si. A garota do interior, aspirante à atriz, que se vislumbra com a cidade grande (‘As coisas mudam muito rápido por aqui’) e se envolve em um triângulo amoroso. A advogada que inicia um relacionamento com o colega de trabalho, porém há um segredo a ser revelado. O desenrolar de um possível relacionamento entre um escritor e uma prostituta.

O que há em comum entre as pessoas envolvidas nessa ciranda? A cidade grande, claro.
Somente esta cidade serviria de cenário principal para a problemática do amor. Porque este é composto principalmente por desilusões. Nada é o que parece ser. E no ritmo frenético da metrópole, menos ainda.
O amor pode durar um mês, uma noite ou dias. Dura até o momento em que nos frustramos com a verdade. Aquela que não queremos enxergar e ouvir. Dura até o último gole de vinho. Dura até o final da música. Pode durar até que as luzes sejam acesas.

O amor pode nos fazer perder a cabeça. Mas que raios este sentimento significa? Não há definições. Sabemos apenas que ele tem começo, meio, e, infelizmente, fim.

Sai do HSBC Belas Artes refazendo praticamente todo o trajeto da personagem principal do filme. Quem sabe assim eu também consiga respostas para algumas questões.

Personagens (no filme e na vida real) em busca de alguém para amar, dividem um endereço em São Paulo (‘Eu moro na Avenida Paulista! ’) e entre frustrações, tentam descobrir quanto dura o amor.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ah, mas você quer ser professora?

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- Você faz faculdade?
- Faço sim!
- De que?
- Letras!
- Letras?
- Sim, Letras!
- Mas você que ser professora?
- Quero! Por que?
- Nossa... (acompanhado daquela aquela cara de desdém, e desaprovação)

Sim, quero ser professora. Enfrentar uma sala de aula cheia de moleques e meninas sem educação, que não estão nem um pouco atentos ao que eu digo... Sim, quero fazer a diferença na vida de alguém. Sim, quero ensinar uma criança a mágica de ler e escrever.

Quando me perguntam o que eu estudo na faculdade, e eu respondo 'Letras', a opinião é dividida: alguns acham uma profissão nobre a de professor; outros, acreditam que não vale a pena. Estudar horrores para acabar à frente de uma sala de aula, ensinando, ou tentando ensinar um bando de adolescentes ou crianças aquilo que eles não fazem questão de aprender, e, ainda por cima, ganhando mal para isso.
Professor é, em alguns casos, uma profissão que não recebe o quanto é justo, estou falando de dinheiro. Mas o que as pessoas não entendem, é que o que se ganha sendo professor, é muito, mas muito mais valiosos do que qualquer dinheiro. Conhecer no início de um ano um grupo de alunos que mal sabem pegar um lápis, e, no fim do ano ver que eles são capazes de escrever seus próprios nomes, e algumas coisinhas a mais, é uma delícia!

- Mas você quer dar aulas em escolas particulares, né?

Pode ser. Hoje, em São Paulo, existem muitas escolas particulares, e muitas escolas particulares muito boas. É digno, mas acho, particularmente, muito mais digno, dar aulas no Estado ou na Prefeitura. Por que?
Quem tem a coragem de dar a cara a tapa nesse tipo de lugar? Escolas da periferia são esquecidas, e a frequência, na maioria das vezes, são de alunos com a família de pouca instrução. Educar quem já é educado desde sempre, pessoas de classe média/alta, que sempre tiveram de tudo, não vão às aulas com fome ou com frio, é muito fácil... Agora, vai ensinar o pessoal que não tem instrução, não tem interesse... É um trabalho lindo, fazer que as pessoas se encantem pelo conhecimento.

Sempre estudei em escolas públicas, e hoje, estou prestes a me formar na faculdade, coisa que a sociedade não 'bota uma fé' que aconteça.

Lembro-me da professora que me alfabetizou, a Lenilélia. Além de excelente pessoa, ela ensinou a mim e a muitas outras pessoas, que ir à escola não é sentar um atrás do outro, tirar o caderno da mochila e ficar lá, estudando... Aprendi com músicas, e muitos outros artifícios que deram supercerto. Além de aprender a ler e escrever, fazer continhas de mais e menos, aprendemos a respeitar as pessoas e conviver com diferenças...

Alguns bons anos depois, já no cursinho, tive a honra de ter aula com duas pessoas que foram cruciais na minha escolha, Dunder e Geovana. Literatura e Gramática. Dois professores sensacionais, que tem amor àquilo que fazem. Dão aulas porque realmente gostam e sentem prazer.

Professores não são tão bem remunerados quanto advogados, empresários ou médicos. Mas com certeza, esses advogados, médicos e empresários são o que são, graças aos professores que tiveram ao longo da vida. Professor é a única profissão que permite que todas as outras profissões sejam possíveis.

Fica aqui, meu eterno agradecimento a todos os professores que eu já tive.

Feliz dia dos professores!
Letícia Aracil

Os professores e a realidade


15 de outubro, dia dos professores. Certamente, todos nós tivemos pelo menos um professor que nos fez olhar a realidade de outro ângulo. Aquele docente que te ensinou algo que você levará para o resto da vida ou que a transformou completamente.

Sabemos que a educação básica na cidade de São Paulo não é tão invejável quanto gostaríamos, que ainda há muito a ser feito, reformulado e reavaliado. Porém, crescemos no meio deste ‘problema a ser resolvido’. Desde os meus anos primários, as escolas públicas foram um problema. Nós, das escolas estaduais, seriamos os marginais da sociedade, com emprego e vida medíocres. Ao passo que os estudantes dos colégios particulares teriam ‘um futuro brilhante’, eu mal chegaria à faculdade. Cresci tendo essa impressão de alguns professores. Muitos deles não apostariam no futuro de alguns alunos.

Estudei em uma escola estadual da Zona Leste chamada ‘Padre Antão’, ou melhor, ‘PA’. Tive uma professora de língua portuguesa que também lecionava no colégio mais top do meu bairro. Eu via seu olhar de espanto perante aqueles pseudo-marginais, esquecidos pela verba estadual, aquelas garotas com a calça do uniforme a dois dedos do umbigo dançando no pátio a música da moda.

Essa professora tinha amor à profissão. Ela se esforçou, mas poucos lhe deram atenção. Incentivou os alunos que lessem mais, mesmo que fosse o jornal ainda pendurado na banca. Quem se importou? Aliás, quem se importaria com uma professora de português falando sobre redação, se no intervalo rolaria a briga entre os garotos o 2º ano?

Nunca fui aluna exemplar, mas aquela mulher chamou-me atenção. E foi ai que eu descobri a MINHA PAIXÃO. Eu pensava, ‘Por que uma professora de colégio particular se importaria com uns perdidos como nós’? Foi quando ela mostrou-me que eu não precisaria seguir o mesmo caminho que tantas outras garotas de minha idade seguiriam. Mostrou-me que eu poderia ter uma realidade totalmente diferente, que uma cidade imensa, chamada São Paulo, estava a minha espera.

Falou-me da importância de ler e escrever todos os dias. Disse-me que, se eu soubesse o sentido de cada palavra proferida, eu dominaria minha própria vida, meu mundo.
E hoje estou aqui. Sonhando em um dia tornar-me professora. Vendo a dura realidade das escolas dos bairros periféricos, dos docentes desrespeitados, do pouco caso de alguns alunos, do muito que alguns fazem e quase sempre são ignorados.

No entanto, há quem ainda esteja lá dentro da escola, na ânsia de aprender alguma coisa, conhecer algo novo, descobrir a forma de dominar o seu mundo. Lendo o livro doado pelo aluno do colégio particular, jogando futebol com a bola quase murcha na quadra mal cuidada. Há quem espere pelo sinal de entrada no portal pichado enquanto meninas de 14/15 anos se estapeiam por razões insignificantes (leiam-se namorados)

Será que ainda existem professores dispostos a viverem em meio a tudo isso, somente em nome da paixão de transmitir conhecimento a jovens quase descrentes?

Mesmo com toda essa realidade, eu ainda sonho em voltar ao PA e fazer a diferença na vida de um aluno, assim como fizeram por mim.

Aos mestres (paulistanos, de preferência), com carinho, deixo meu ‘muito obrigado’.
Camila Maria

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Itinerário Habitual - parte IV

dê uma olhada no último ponto...

"Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?"
Tomás Antônio Gonzaga

Fingiu que não entendeu a pergunta, e retrucou:

- Você falou comigo?
- Sim, falei. Disse ele. Perguntei como você se chama.

O rosto de Marina ardeu em chamas, e ela jurou ter sentido o coração na garganta.

- Marina.
- Marilia?
- Não, Marina, com n!
- Oi, Marina-com-n! Tudo bem?
- Tudo!

Ela não quis perguntar “e você” para tentar não estender o assunto e ter que começar a falar de sua vida, onde mora, o que estuda, onde trabalha...

- Sabe, há um tempo que vejo você no ônibus, mas você não descia nesse ponto... Mudou de casa?

Com aquela pergunta, as chamas que queimavam o rosto, tranformaram-se em pedras de gelo na barriga. E Marina não sabia o que responder àquela pergunta tão...tão...

- Na verdade, me propus a andar um pouco mais, por isso deixo um ponto passar.
- E por que não desce um ponto antes?
- Porque acho a Av da Consolação um pouco escura demais, e tenho medo. Bom, vou ficar por aqui. Até logo!
- À propósito, Marina, o meu nome é Vitor. Foi um prazer te acompanhar até aqui! Boa noite!
- Boa noite, Vitor!

Marilia... ele a chamara de Marilia... aquela, de Dirceu...

Naquela noite, Marina não seguiu a rotina. Não preparou um lanche, não tomou banho e não sentou-se na cama para ler antes de pegar no sono. Sentou-se no sofá e permaneceu inerte durante alguns minutos, digerindo cada palavra articulada por Vitor. Espantava-se consigo mesma pela maneira como foi receptiva a ele, mesmo não o tendo olhado nos olhos. Mesmo assim pode perceber que era de um azul estranho, um azul turquesa tão claro e transparente, eram olhos de ressaca mesmo, mas ressaca de um mar muito limpo... Diferente dos seus, castanhos e um pouco turvos na cor.
Acabou pegando no sono, sem lanche e sem banho, ali mesmo, no sofá. Acordou pela manhã, com o celular já quase sem forças para despertar de tanto que já havia tocado. Olhou no relógio e viu que já estava atrasada para o estágio. A aula em que faz estágio começava às 7h e era 6h30. Levantou-se num pulo, ligou a cafeteira e entrou no chuveiro.

domingo, 11 de outubro de 2009

Itinerário Habitual - Parte III

Não se perca neste itinerário...

“Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois”
(Alberto Caeiro)


No dia posterior ao encontro dos olhares, Marina acordara com uma estranha sensação. Um estímulo para usar uma roupa mais bonita ou arrumar os cabelos de um jeito diferente. A garota nunca se importou em impressionar os outros com a forma que se vestia. Para ela, pouco importava se a achavam bonita ou não. Preferiu não fazer alarde e continuou com o habitual.

O dia passou rápido. Imersa em seus próprios pensamentos (‘Qual será o nome dele? ’), a garota passou a tarde no estágio e de lá fora direto para a faculdade. Enquanto o professor falava sobre realidade educacional, Marina se questionava sobre a própria realidade. Sempre soubera o que fazer em diversas situações, mas depois daquele encontro, não sabia se ainda teria coragem de pegar o mesmo ônibus, apenas para evitar um reencontro.

Dez e meia. Correu para a Rua da Consolação. Entrou no ônibus. Ele já estava lá. Vestia uma camiseta branca, bermuda e tênis sem meia. A barba estava por fazer. E os olhos, mais azuis do que antes. Mais uma vez, a garota desviara o olhar. Porém, sentou-se bem próxima ao rapaz.
Abriu seu Caeiro e fingiu ler. Ela queria ouvir mais uma vez o som daquela voz. Reparou nos braços do rapaz. Havia uma tatuagem no braço esquerdo. A essa altura, ela já imaginava ver o resto do desenho. Tentou se concentrar. Inútil tentativa.

‘Deixe de ser ridícula’, pensou. E de tanto pensar, perdera mais uma vez o ponto. Novamente desceu na Brigadeiro. O Rapaz desceu logo atrás. E se ela diminuísse o passo para ele acompanhá-la? E se ele achasse que ela fazia tudo aquilo de propósito?
Julgou-se mais uma vez sonhadora. A realidade um dia a pressionaria a tomar uma atitude mais sensata, mais real e menos fantasiosa.

De repente, ouviu uma voz: ‘Oi, tudo bem? Qual é o seu nome?’

Inerte, perante aquelas palavras, ela só conseguia admirar aqueles olhos. Agora, um pouco mais de perto...

domingo, 4 de outubro de 2009

Histórias da Avenida Paulista

É fato: todo paulistano tem uma boa história da Avenida Paulista pra contar. Histórias tristes ou engraçadas, divertidas ou trágicas, elas são pratos cheios para uma boa conversa de bar.
Mas de todas as histórias de Av. Paulista, as que mais me agradam são as histórias de amor (leia-se também de paixão platônica, de amasso, de romance...)

Certa vez presenciei um encontro inesperado entre dois jovens que não se conheciam até então. E, claro, a fabulosa Av. Paulista os uniu.

Era fim de tarde. A estação Consolação já começava a encher. Eu estava com pressa de chegar à faculdade cedo e nem percebi que os créditos do meu Bilhete Único haviam acabado. E todo paulistano sabe, não há nada mais infernal do que passar o cartão na catraca e perceber que não há créditos. Você fica com cara de idiota tentando girar a catraca.

Subi e fui à procura de um lugar para colocar créditos no Bilhete. Achei um local no Conjunto Nacional que, dentre as inúmeras atividades terceirizadas, colocava créditos no bendito Bilhete. A fila estava imensa. Havia dois jovens na minha frente. A garota tinha cabelos longos e escuros, usava salto alto e carregava processos nos braços (acho que era advogada) e tinha um ar de poucos amigos; O rapaz, mestiço e com ares de bancário.

De repente, o celular dela começou a tocar ao som de ‘Iron man’ do Black Sabbath. Os olhos do rapaz brilharam “Nossa, muito boa escolha. Você curte mesmo ou apenas acha bonitinho?” Ela, que esboçou um sorriso, mas manteve a postura, respondeu “Black Sabbath não é bonitinho, é pesado. E sim, eu gosto da música.”

Eu ri internamente. Decerto o rapaz tinha outra impressão da garota ou pensava que ela gostasse de micareta. Caíra do cavalo. Começaram a conversar. Aquela coisa onde você mora, o que faz, trabalha na Paulista?... Ela, mesmo discreta, não parava de falar. Estava empolgada. E ele maravilhado com a possível advogada que ouvia ‘Iron Man’.

A minha vez de ser atendida foi se aproximando, mas estava tão curiosa para saber o final daquele encontro inesperado que esqueci que estava com pressa. Umas das últimas palavras que eu ouvi foram: “Se você vir sempre para a Paulista, posso pegar seu telefone e combinamos de tomar um café qualquer dia desses.” A garota, se titubear, respondeu: “Por que não agora?” Adorei!

Há encontro mais paulistano que esse? Imprevistos, filas, o cotidiano como cenário principal. Será que um deles havia pensado em algo tão incomum quando saíram de suas respectivas casas naquele dia?

Foram embora juntos. Fiquei imaginando se os dois se dariam bem, se a química rolaria, se o romance engataria.

Quando sai do Conjunto Nacional, eles estavam no Café Viena. A conversa pelo visto renderia muitos cafés. Ela, não mais tão discreta, sorria sem parar. Ele, também. Acho que nem se lembravam do café.

E você? Tem uma boa história de Avenida Paulista pra contar?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Itinerário Habitual - parte II

Para não pegar o ônibus andando...


A essas alturas, já estava no final da Rua da Consolação, quase na Av Paulista, pertinho do seu apartamento. Marina não sabia se queria que o tempo fosse como uma flecha ou como uma paciente tartaruga. Estava aflita com aqueles olhos em sua direção. Aflita com a ideia de que olhariam em seus olhos, e imaginariam o nome, idade, profissão, o que come pela manhã ou a que horas vai dormir.

O Rapaz, de calça jeans escura, um tênis bonito e camiseta de listras, parecia que voltava também da faculdade. Pelo volume de seus livros, Marina julgava-o estudante de direito, ou, quem sabe, administração. E continuava a olhá-la, sem tantas preocupações como as de Marina. Tanto fazia para ele se soubessem seu nome ou sua rotina. Na verdade, isso não fazia a menor diferença.

O ônibus, entrou na Paulista e ela mal percebeu que perdera o ponto. Quando se deu conta, desceu na Brigadeiro, e, para o seu espanto, o Homem-de-Listras também desceu no mesmo ponto.

- Boa noite! Cuidado pelo caminho!

Marina retribuiu com um breve sorriso tímido e um aceno positivo com a cabeça, e seguiu rumo à sua casa, com passos largos e apressados.

O porteiro do turno da noite, Marina sempre o via, mas assim como fazia com o motorista e o cobrador, desviava o olhar para não se deixar invadir pelos olhos dos outros. Subiu as escadas até o seu andar, entrou em seu apartamento. Como de costume, fez um lanche, tomou um banho, e sentou-se para ler um pouco mais antes de dormir. Céus! Como alguém podia ter mexido tanto assim com ela? Apenas com um olhar? (e que olhar!).

Enquanto passava os olhos pelo seu Alberto Caeiro, pensou que, talvez aquele Rapaz fosse o seu guardador de rebanhos... falando em rebanhos e guardadores, talvez fosse ela Marília, e ele, Dirceu... Quem sabe?

Sacudiu a cabeça na tentativa de espantar devaneio. Julga-se sonhadora demais. ''Para mudar a educação do mundo, é preciso realismo!'', dizia ela.

Ela jamais pensara qualquer coisa parecida, ainda mais, se o rapaz em questão fosse um desconhecido, mas Marina começou a lembrar do azul, e cada momento a remetia à uma história bonita que lera... Adormeceu com Alberto Caeiro no peito, desajeitada na cama.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Itinerário Habitual

Marina era uma daquelas garotas que pouco se importava com o que acontecia em sua volta. Sempre com um livro debaixo do braço, ela saía da faculdade de Pedagogia com a cabeça cheia de ideias. Introspectiva e ao mesmo tempo determinada, ela queria transformar o mundo onde vivia. E estudar Pedagogia era sua parcela de contribuição.

Todos os dias, ela pegava o mesmo ônibus, sempre no mesmo horário. Nunca falou um ‘boa noite’ ao motorista ou ao cobrador. Eram sempre os mesmos, viam-se todos os dias, quase amigos íntimos, porém Marina desviava o olhar quando percebia que um deles abriria um sorriso para cumprimentá-la.

Na realidade, ela sempre foi de poucos amigos. Tinha medo de quantas pessoas entrariam em sua vida e descobrissem seus medos. Marina tinha receio dos sentimentos das pessoas, afinal cansara de ver tantas pessoas chorando e sofrendo por razões de outras. A garota não queria se arriscar. Quando entrava no ônibus, percebia que alguém a olhava. Mas nunca quis saber quem ou o que era. O olhar era o que mais incomodava a garota. Se os olhos eram as janelas da alma, ela não queria olhar ninguém por dentro.

E foi assim por muito tempo. O mesmo ônibus, as mesmas pessoas, o mesmo itinerário. As ruas que separavam a universidade do seu apartamento já sabiam os segredos e anseios. Em um desses retornos para casa, após ler diversas páginas do livro da semana e refletir sobre sua própria verdade, a garota adormecera. Quando despertou repentinamente, viu uns olhos azuis, olhando-a profundamente, como quem admira uma beleza anônima.

Marina também olhara para aqueles olhos. Não eram olhos de ressaca, como aquele que tanto sonhou, após ter lido ‘Dom Casmurro’. Eram olhos pequenos e tão distantes. Logo desviou o olhar. Não queria que o dono daqueles olhos se tornasse ‘o colega do ônibus’. Mas pelo reflexo do vidro, ela viu que ele não parou de fitá-la.

Sorrira por dentro. A barba por fazer, que ela tanto gostava nos homens, dava ao rapaz um ar sombrio e deixou Marina ainda mais tímida. Ela não sabia porquê ele olhava e o que tanto queria descobrir. Ela não queria olhá-lo.

To be continued...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A busca

É incalculável o número de pessoas que cruzamos diariamente nas ruas, no trânsito, no metrô. Estamos constantemente em contato com pessoas distintas, cada uma com seu infinito particular, suas verdades absolutas e pensamentos. E dentre essas milhares de pessoas que passam por nós, como é possível escolher uma para chamar de sua? Como é feita essa escolha?
A sensação de saber que nesta multidão existe alguém que pensa em você é muito boa. É saber que aquela incansável “busca” enfim acabou. É trocar as bebedeiras na Rua Augusta por uma sessão de cinema no Espaço Unibanco ou preferir andar de bicicleta ao lado do bonitão (ou bonitona) no Ibirapuera ao invés de ir ao pagode na Vila Madalena. Mas se há tantas pessoas na cidade de São Paulo, e em outras metrópoles, como ainda existem pessoas que se sentem sozinhas?
Todo mundo possui, dentro de si, um vazio a preencher, independentemente de gosto, atração e paixão. E cada um procura um meio de substituir esse vazio. Há quem use a vida na metrópole ao seu favor, para conhecer a cada dia alguém diferente para chamar de seu. Quem pode julgar? É a forma de não se sentir sozinho nessa megalópole. É a beleza cinzenta da cidade como cenário de diversas histórias de amor, na busca diária e incessante de ser feliz.
Estamos cercados de pessoas diferentes que talvez estejam nessa mesma busca, querendo preencher algum espaço na vida de alguém.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Amores breves de metrô


O metrô é um típico cenário paulistano. Em São Paulo, todo trabalhador que se preze, passa boas horas dentro do metrô, ora ouvindo seu companheiro inseparável, o iPod, ora concentrado em sua palavra cruzada, ora vagando com o olhar. Quando menos esperamos, lá está ele. Lindo como sempre sonhamos. Displicentemente lindo. Não sabemos para onde olhar.
Um amor de metrô pode durar uma estação ou uma linha inteira. É necessário que se aproveite, afinal, não sabemos se ele está atrasado, ou se pega metrô só uma vez por semana.
Olho, ele olha, fico sem graça, torno a olhar, correspondeu. A gente fica meio sem graça quando o outro percebe que estamos olhando. É um misto de vergonha, falta de reação e insegurança.
Será que eu falo com ele?
Em qual estação ele descerá?
Naturalidade! Finja naturalidade!
Amores de mtrô são uma delícia! Dão um up da auto-estima e são discretos. Mais gostoso ainda quando olhamos através do reflexo do vidro da porta ou da janela. Para os mais ousados, pode até acontecer um aceno de ''tchau'' quando um dos dois sai do metrõ e olha para trás. E muito, mas muito mais gostoso ainda, é quando nos encontramos no dia seguinte, na mesma hora e estação. Me faz até pensar que ele estava esperando por mim.
Breves, intensos amores dos metrôs desta megalópole que é São Paulo.
A graça, a grande sacada é o mistério, é ficar pensando no ''que aconteceria se eu desse meu e-mail?'' Ah! Melhor não!
Cada dia um amor, de estações, linhas, baldeações. Ah, como eu adoro andar de metrô!

Citadina


E apesar do frenético movimento da metrópole, sei onde estou.” (Mari Damásio)

É nesta metrópole com nome de santo que as coisas mais ilícitas acontecem. Sonhos se refazem, encontros e desencontros ocorrem diariamente, brigas, intrigas, amores brutos e ira excessiva. Moramos em uma cidade que não nos deixa dormir. Não por perturbação, mas por inúmeras opções que ela nos proporciona.

Podemos ouvir as histórias das pessoas em qualquer bar da cidade e trazer um pouquinho de cada uma delas para nossas vidas como uma lição, ir a um restaurante desconhecido e que pela aparência você não dá nada, mas acaba comendo uma das melhores refeições da sua vida. Temos de tudo: a livraria Cultura do Conjunto Nacional, grandes empresas, o parque Ibirapuera, um centro comercial respeitadíssimo, a diversidade cultural com comunidades de japoneses, portugueses, italianos e árabes, grandes shows, exposições, congressos e eventos, os programas gratuitos do Centro Cultural, o pão com mortadela do Mercado Municipal, as melhores universidades do país e emprego para todo mundo, basta procurar.


A cidade de São Paulo reúne as pessoas. É fácil encontrar alguém que pense a mesma coisa que você, participar de alguma manifestação na Avenida Paulista e conhecer alguém interessante na Mostra Internacional de Cinema, em outubro. São Paulo é a cidade mais linda e iluminada do Brasil, principalmente no Natal. Sua irresistível arquitetura encanta e seduz. É perfeita para namorar e não causa tédio. Ainda que o nível de estresse do paulistano esteja alto, as pessoas são felizes aqui. O cotidiano é frenético, a condução é cheia, mas uma pessoa ajuda a outra e tentam encontrar, juntas, uma solução para os problemas do trânsito e do metrô. No inverno, as calçadas tornam-se uma passarela. Você nunca se perderá nessa cidade, basta parar em algum ponto de ônibus, olhar no letreiro do automóvel aquela flechinha do metrô e pronto, já estará em casa. É bom dizer “Sou paulistano”.


Essa cidade nos transformou em quem somos, deu tudo que nos quisemos. Aqui moram os nossos devaneios, nossos instintos e nossa essência. Conhecemos o verdadeiro sentido de amizade, amor verdadeiro e também, crueldade. São Paulo é como se fosse um namorado. Brigamos, discordamos de muitas coisas, mas não admitos que falem mal de alguém que tanto amamos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Poesia Cooperativa

Ahhhh! Nada melhor do que uma aula de Linguística sem sentindo, não é?

Ontem, na faculdade, estávamos assistindo à uma aula muito proveitosa (ironia) sobre Bakhtin e gêneros do discurso, quando um de nós iniciou um 'poeminha' e passou o caderno para que cada um escrevesse uma estrofe.


Bakhtin é um cara idiota
Faz uns estudos de bosta
Eu não entendi, ninguém entendeu
E é por isso que os aluno se fodeu!

Ele deve ter dormido com o Raul,
Deve ter jantado com o Lelis em Seul.
Talvez, eu o mando tomar no...

Aposto que ele era mal-amado
Assim como a professora é.
Bakhtin devia ser viado.
E a professora gosta de mulher!

Eu queria ser uma ricaça
E ficar vendo, em casa, a novela das oito.
Ah! Como me faz falta o bar e a cachaça!

Agora ela nos perguntou o que rola
E nós dissemos que sua aula é uma bosta!
Então os óculos ela colocou atrás da orelha,
E prosseguiu com sua vozinha de pentelha.

Vamos agora fazer o roteiro...
Oh, meu Deus! Socorro!
Bem que ela podia sair daqui, e cair dentro de um boeiro!

Barriga de Luar (esse é o nosso psudônimo!)

Isso sim é que é escárnio, o resto é perfumaria!!

Introducing

Capuccino Paulistano...
Escolhemos o nome por dois motivos... Mas antes de explicar, apresentar-nos-emos (UI)!

Café e Leite ou Camila e Letícia. Reparou nas iniciais? Leite - Letícia, Café - Camila. Letrandas, amigas, apaixonadas por filmes e boas leituras. Meninas-mulheres que lutam para realizar seus sonhos e querem sempre estar à frente das situações. As duas tem estilos muito parecidos em alguns aspectos; em outros, a disparidade reina, mas as diferenças são como a canela por cima do cappucino, dá o toque final que deixa ainda mais gostoso... E, claro, adoradoras de um bom capuccino com açúcar mascavo!

Vamos ao nome...

Capuccino…
O primeiro motivo de termos escolhido 'Capuccino', é que em muitos momentos, na faculdade, nós paramos tudo para um bom cappucino, sempre com açúcar mascavo... É o nosso momento para fofocas, desabafos e besteiras, quase um ritual!

O outro é que temos uma brincadeirinha de que a Camila é o café e a Letícia, o leite, por uma ser ''mais pretinha'' e a outra ''branquela''. Às vezes vocês poderão ver que nos tratamos por Branca e Preta, mas isso é puro carinho que temos uma com a outra! E essa junção de café com leite, nos remete ao nosso bom cappucino...

e Paulistano...
Naturais de São Paulo, apaixonadas pela nossa cidade, somos urbanas, (apesar de adorarmos praia, campo etc) daquelas que pegam metrô todos os dias às 18h e já nem nos incomodamos mais com a Sé lotada, já é rotina passar 40h por mês dentro de condução. Além disso, quase todos os momentos mais importantes das nossas vidas aconteceram em Sampa, que é a nossa cara. É o cenário das nossas histórias, verdadeiras ou não.
São Paulo é cinza e muitas vezes fria. Nada como um bom cappuccino para esquentar algumas noites.

A Proposta...
No Cappucino Paulistano, a ideia principal é expormos nossos escritos, em geral, contos e crônicas, tendo como ponto de referência o cotidiano na 'cidade grande'. Seja uma conversa que ouvimos no metrô ou um fato inusitado que aconteceu, enquanto andávamos pelas ruas. Enfim, aquelas situações bem do dia-a-dia, que sem percebermos, podem dar uma boa história para ser contada e comentada.

Além do C.P, podem nos acompanhar através dos nossos blogs pessoais:
Camila: Notas de uma pensadora
Letícia: Pra Mode Que?

Esperamos que este cappuccino seja refúgio de muitas pessoas para rir e chorar com nossas histórias.
Deleitem-se!
Boa leitura e bom cappuccino!