quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os professores e a realidade


15 de outubro, dia dos professores. Certamente, todos nós tivemos pelo menos um professor que nos fez olhar a realidade de outro ângulo. Aquele docente que te ensinou algo que você levará para o resto da vida ou que a transformou completamente.

Sabemos que a educação básica na cidade de São Paulo não é tão invejável quanto gostaríamos, que ainda há muito a ser feito, reformulado e reavaliado. Porém, crescemos no meio deste ‘problema a ser resolvido’. Desde os meus anos primários, as escolas públicas foram um problema. Nós, das escolas estaduais, seriamos os marginais da sociedade, com emprego e vida medíocres. Ao passo que os estudantes dos colégios particulares teriam ‘um futuro brilhante’, eu mal chegaria à faculdade. Cresci tendo essa impressão de alguns professores. Muitos deles não apostariam no futuro de alguns alunos.

Estudei em uma escola estadual da Zona Leste chamada ‘Padre Antão’, ou melhor, ‘PA’. Tive uma professora de língua portuguesa que também lecionava no colégio mais top do meu bairro. Eu via seu olhar de espanto perante aqueles pseudo-marginais, esquecidos pela verba estadual, aquelas garotas com a calça do uniforme a dois dedos do umbigo dançando no pátio a música da moda.

Essa professora tinha amor à profissão. Ela se esforçou, mas poucos lhe deram atenção. Incentivou os alunos que lessem mais, mesmo que fosse o jornal ainda pendurado na banca. Quem se importou? Aliás, quem se importaria com uma professora de português falando sobre redação, se no intervalo rolaria a briga entre os garotos o 2º ano?

Nunca fui aluna exemplar, mas aquela mulher chamou-me atenção. E foi ai que eu descobri a MINHA PAIXÃO. Eu pensava, ‘Por que uma professora de colégio particular se importaria com uns perdidos como nós’? Foi quando ela mostrou-me que eu não precisaria seguir o mesmo caminho que tantas outras garotas de minha idade seguiriam. Mostrou-me que eu poderia ter uma realidade totalmente diferente, que uma cidade imensa, chamada São Paulo, estava a minha espera.

Falou-me da importância de ler e escrever todos os dias. Disse-me que, se eu soubesse o sentido de cada palavra proferida, eu dominaria minha própria vida, meu mundo.
E hoje estou aqui. Sonhando em um dia tornar-me professora. Vendo a dura realidade das escolas dos bairros periféricos, dos docentes desrespeitados, do pouco caso de alguns alunos, do muito que alguns fazem e quase sempre são ignorados.

No entanto, há quem ainda esteja lá dentro da escola, na ânsia de aprender alguma coisa, conhecer algo novo, descobrir a forma de dominar o seu mundo. Lendo o livro doado pelo aluno do colégio particular, jogando futebol com a bola quase murcha na quadra mal cuidada. Há quem espere pelo sinal de entrada no portal pichado enquanto meninas de 14/15 anos se estapeiam por razões insignificantes (leiam-se namorados)

Será que ainda existem professores dispostos a viverem em meio a tudo isso, somente em nome da paixão de transmitir conhecimento a jovens quase descrentes?

Mesmo com toda essa realidade, eu ainda sonho em voltar ao PA e fazer a diferença na vida de um aluno, assim como fizeram por mim.

Aos mestres (paulistanos, de preferência), com carinho, deixo meu ‘muito obrigado’.
Camila Maria

2 comentários:

The Blues Is Alright disse...

Bem-vindos somos nós... ao que tudo indica, estudo para me encaminhar ao mundo da licenciatura. Parabéns.

Marcelo Mayer disse...

ao que tudo indica, os professores terão menos paciência com os alunos, pq lá em cima não os respeitam e aqui em baixo muitos fazem pouco caso. porém, agradeço a minah professora patricia por me colocar no mundo da escrita!!!!!