domingo, 4 de outubro de 2009

Histórias da Avenida Paulista

É fato: todo paulistano tem uma boa história da Avenida Paulista pra contar. Histórias tristes ou engraçadas, divertidas ou trágicas, elas são pratos cheios para uma boa conversa de bar.
Mas de todas as histórias de Av. Paulista, as que mais me agradam são as histórias de amor (leia-se também de paixão platônica, de amasso, de romance...)

Certa vez presenciei um encontro inesperado entre dois jovens que não se conheciam até então. E, claro, a fabulosa Av. Paulista os uniu.

Era fim de tarde. A estação Consolação já começava a encher. Eu estava com pressa de chegar à faculdade cedo e nem percebi que os créditos do meu Bilhete Único haviam acabado. E todo paulistano sabe, não há nada mais infernal do que passar o cartão na catraca e perceber que não há créditos. Você fica com cara de idiota tentando girar a catraca.

Subi e fui à procura de um lugar para colocar créditos no Bilhete. Achei um local no Conjunto Nacional que, dentre as inúmeras atividades terceirizadas, colocava créditos no bendito Bilhete. A fila estava imensa. Havia dois jovens na minha frente. A garota tinha cabelos longos e escuros, usava salto alto e carregava processos nos braços (acho que era advogada) e tinha um ar de poucos amigos; O rapaz, mestiço e com ares de bancário.

De repente, o celular dela começou a tocar ao som de ‘Iron man’ do Black Sabbath. Os olhos do rapaz brilharam “Nossa, muito boa escolha. Você curte mesmo ou apenas acha bonitinho?” Ela, que esboçou um sorriso, mas manteve a postura, respondeu “Black Sabbath não é bonitinho, é pesado. E sim, eu gosto da música.”

Eu ri internamente. Decerto o rapaz tinha outra impressão da garota ou pensava que ela gostasse de micareta. Caíra do cavalo. Começaram a conversar. Aquela coisa onde você mora, o que faz, trabalha na Paulista?... Ela, mesmo discreta, não parava de falar. Estava empolgada. E ele maravilhado com a possível advogada que ouvia ‘Iron Man’.

A minha vez de ser atendida foi se aproximando, mas estava tão curiosa para saber o final daquele encontro inesperado que esqueci que estava com pressa. Umas das últimas palavras que eu ouvi foram: “Se você vir sempre para a Paulista, posso pegar seu telefone e combinamos de tomar um café qualquer dia desses.” A garota, se titubear, respondeu: “Por que não agora?” Adorei!

Há encontro mais paulistano que esse? Imprevistos, filas, o cotidiano como cenário principal. Será que um deles havia pensado em algo tão incomum quando saíram de suas respectivas casas naquele dia?

Foram embora juntos. Fiquei imaginando se os dois se dariam bem, se a química rolaria, se o romance engataria.

Quando sai do Conjunto Nacional, eles estavam no Café Viena. A conversa pelo visto renderia muitos cafés. Ela, não mais tão discreta, sorria sem parar. Ele, também. Acho que nem se lembravam do café.

E você? Tem uma boa história de Avenida Paulista pra contar?

Um comentário:

Marcelo Mayer disse...

todos nós temos. e sim, bilhete único sem crédito é uma angustia! mas eu tenho mais histórias descendo a augusta. lá sim há muitas! das piores e das melhores. e das meio-termo!

e achei do caralho "Black Sabbath não é bonitinho, é pesado."

frase pra entrar na história!

ótimo texto

bjs