sábado, 17 de outubro de 2009

Quanto dura o amor?

Don't leave me high, don't leave me dry
O dia inteiro havia sido um caos. Nada mais havia de interessante para aquela sexta-feira. Mandei um e-mail para uma amiga, que me chamou para ir ao cinema. Escolhi ‘Quanto dura o amor?’. Nome sugestivo...

O filme conta histórias de amor distintas entre si. A garota do interior, aspirante à atriz, que se vislumbra com a cidade grande (‘As coisas mudam muito rápido por aqui’) e se envolve em um triângulo amoroso. A advogada que inicia um relacionamento com o colega de trabalho, porém há um segredo a ser revelado. O desenrolar de um possível relacionamento entre um escritor e uma prostituta.

O que há em comum entre as pessoas envolvidas nessa ciranda? A cidade grande, claro.
Somente esta cidade serviria de cenário principal para a problemática do amor. Porque este é composto principalmente por desilusões. Nada é o que parece ser. E no ritmo frenético da metrópole, menos ainda.
O amor pode durar um mês, uma noite ou dias. Dura até o momento em que nos frustramos com a verdade. Aquela que não queremos enxergar e ouvir. Dura até o último gole de vinho. Dura até o final da música. Pode durar até que as luzes sejam acesas.

O amor pode nos fazer perder a cabeça. Mas que raios este sentimento significa? Não há definições. Sabemos apenas que ele tem começo, meio, e, infelizmente, fim.

Sai do HSBC Belas Artes refazendo praticamente todo o trajeto da personagem principal do filme. Quem sabe assim eu também consiga respostas para algumas questões.

Personagens (no filme e na vida real) em busca de alguém para amar, dividem um endereço em São Paulo (‘Eu moro na Avenida Paulista! ’) e entre frustrações, tentam descobrir quanto dura o amor.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ah, mas você quer ser professora?

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- Você faz faculdade?
- Faço sim!
- De que?
- Letras!
- Letras?
- Sim, Letras!
- Mas você que ser professora?
- Quero! Por que?
- Nossa... (acompanhado daquela aquela cara de desdém, e desaprovação)

Sim, quero ser professora. Enfrentar uma sala de aula cheia de moleques e meninas sem educação, que não estão nem um pouco atentos ao que eu digo... Sim, quero fazer a diferença na vida de alguém. Sim, quero ensinar uma criança a mágica de ler e escrever.

Quando me perguntam o que eu estudo na faculdade, e eu respondo 'Letras', a opinião é dividida: alguns acham uma profissão nobre a de professor; outros, acreditam que não vale a pena. Estudar horrores para acabar à frente de uma sala de aula, ensinando, ou tentando ensinar um bando de adolescentes ou crianças aquilo que eles não fazem questão de aprender, e, ainda por cima, ganhando mal para isso.
Professor é, em alguns casos, uma profissão que não recebe o quanto é justo, estou falando de dinheiro. Mas o que as pessoas não entendem, é que o que se ganha sendo professor, é muito, mas muito mais valiosos do que qualquer dinheiro. Conhecer no início de um ano um grupo de alunos que mal sabem pegar um lápis, e, no fim do ano ver que eles são capazes de escrever seus próprios nomes, e algumas coisinhas a mais, é uma delícia!

- Mas você quer dar aulas em escolas particulares, né?

Pode ser. Hoje, em São Paulo, existem muitas escolas particulares, e muitas escolas particulares muito boas. É digno, mas acho, particularmente, muito mais digno, dar aulas no Estado ou na Prefeitura. Por que?
Quem tem a coragem de dar a cara a tapa nesse tipo de lugar? Escolas da periferia são esquecidas, e a frequência, na maioria das vezes, são de alunos com a família de pouca instrução. Educar quem já é educado desde sempre, pessoas de classe média/alta, que sempre tiveram de tudo, não vão às aulas com fome ou com frio, é muito fácil... Agora, vai ensinar o pessoal que não tem instrução, não tem interesse... É um trabalho lindo, fazer que as pessoas se encantem pelo conhecimento.

Sempre estudei em escolas públicas, e hoje, estou prestes a me formar na faculdade, coisa que a sociedade não 'bota uma fé' que aconteça.

Lembro-me da professora que me alfabetizou, a Lenilélia. Além de excelente pessoa, ela ensinou a mim e a muitas outras pessoas, que ir à escola não é sentar um atrás do outro, tirar o caderno da mochila e ficar lá, estudando... Aprendi com músicas, e muitos outros artifícios que deram supercerto. Além de aprender a ler e escrever, fazer continhas de mais e menos, aprendemos a respeitar as pessoas e conviver com diferenças...

Alguns bons anos depois, já no cursinho, tive a honra de ter aula com duas pessoas que foram cruciais na minha escolha, Dunder e Geovana. Literatura e Gramática. Dois professores sensacionais, que tem amor àquilo que fazem. Dão aulas porque realmente gostam e sentem prazer.

Professores não são tão bem remunerados quanto advogados, empresários ou médicos. Mas com certeza, esses advogados, médicos e empresários são o que são, graças aos professores que tiveram ao longo da vida. Professor é a única profissão que permite que todas as outras profissões sejam possíveis.

Fica aqui, meu eterno agradecimento a todos os professores que eu já tive.

Feliz dia dos professores!
Letícia Aracil

Os professores e a realidade


15 de outubro, dia dos professores. Certamente, todos nós tivemos pelo menos um professor que nos fez olhar a realidade de outro ângulo. Aquele docente que te ensinou algo que você levará para o resto da vida ou que a transformou completamente.

Sabemos que a educação básica na cidade de São Paulo não é tão invejável quanto gostaríamos, que ainda há muito a ser feito, reformulado e reavaliado. Porém, crescemos no meio deste ‘problema a ser resolvido’. Desde os meus anos primários, as escolas públicas foram um problema. Nós, das escolas estaduais, seriamos os marginais da sociedade, com emprego e vida medíocres. Ao passo que os estudantes dos colégios particulares teriam ‘um futuro brilhante’, eu mal chegaria à faculdade. Cresci tendo essa impressão de alguns professores. Muitos deles não apostariam no futuro de alguns alunos.

Estudei em uma escola estadual da Zona Leste chamada ‘Padre Antão’, ou melhor, ‘PA’. Tive uma professora de língua portuguesa que também lecionava no colégio mais top do meu bairro. Eu via seu olhar de espanto perante aqueles pseudo-marginais, esquecidos pela verba estadual, aquelas garotas com a calça do uniforme a dois dedos do umbigo dançando no pátio a música da moda.

Essa professora tinha amor à profissão. Ela se esforçou, mas poucos lhe deram atenção. Incentivou os alunos que lessem mais, mesmo que fosse o jornal ainda pendurado na banca. Quem se importou? Aliás, quem se importaria com uma professora de português falando sobre redação, se no intervalo rolaria a briga entre os garotos o 2º ano?

Nunca fui aluna exemplar, mas aquela mulher chamou-me atenção. E foi ai que eu descobri a MINHA PAIXÃO. Eu pensava, ‘Por que uma professora de colégio particular se importaria com uns perdidos como nós’? Foi quando ela mostrou-me que eu não precisaria seguir o mesmo caminho que tantas outras garotas de minha idade seguiriam. Mostrou-me que eu poderia ter uma realidade totalmente diferente, que uma cidade imensa, chamada São Paulo, estava a minha espera.

Falou-me da importância de ler e escrever todos os dias. Disse-me que, se eu soubesse o sentido de cada palavra proferida, eu dominaria minha própria vida, meu mundo.
E hoje estou aqui. Sonhando em um dia tornar-me professora. Vendo a dura realidade das escolas dos bairros periféricos, dos docentes desrespeitados, do pouco caso de alguns alunos, do muito que alguns fazem e quase sempre são ignorados.

No entanto, há quem ainda esteja lá dentro da escola, na ânsia de aprender alguma coisa, conhecer algo novo, descobrir a forma de dominar o seu mundo. Lendo o livro doado pelo aluno do colégio particular, jogando futebol com a bola quase murcha na quadra mal cuidada. Há quem espere pelo sinal de entrada no portal pichado enquanto meninas de 14/15 anos se estapeiam por razões insignificantes (leiam-se namorados)

Será que ainda existem professores dispostos a viverem em meio a tudo isso, somente em nome da paixão de transmitir conhecimento a jovens quase descrentes?

Mesmo com toda essa realidade, eu ainda sonho em voltar ao PA e fazer a diferença na vida de um aluno, assim como fizeram por mim.

Aos mestres (paulistanos, de preferência), com carinho, deixo meu ‘muito obrigado’.
Camila Maria

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Itinerário Habitual - parte IV

dê uma olhada no último ponto...

"Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?"
Tomás Antônio Gonzaga

Fingiu que não entendeu a pergunta, e retrucou:

- Você falou comigo?
- Sim, falei. Disse ele. Perguntei como você se chama.

O rosto de Marina ardeu em chamas, e ela jurou ter sentido o coração na garganta.

- Marina.
- Marilia?
- Não, Marina, com n!
- Oi, Marina-com-n! Tudo bem?
- Tudo!

Ela não quis perguntar “e você” para tentar não estender o assunto e ter que começar a falar de sua vida, onde mora, o que estuda, onde trabalha...

- Sabe, há um tempo que vejo você no ônibus, mas você não descia nesse ponto... Mudou de casa?

Com aquela pergunta, as chamas que queimavam o rosto, tranformaram-se em pedras de gelo na barriga. E Marina não sabia o que responder àquela pergunta tão...tão...

- Na verdade, me propus a andar um pouco mais, por isso deixo um ponto passar.
- E por que não desce um ponto antes?
- Porque acho a Av da Consolação um pouco escura demais, e tenho medo. Bom, vou ficar por aqui. Até logo!
- À propósito, Marina, o meu nome é Vitor. Foi um prazer te acompanhar até aqui! Boa noite!
- Boa noite, Vitor!

Marilia... ele a chamara de Marilia... aquela, de Dirceu...

Naquela noite, Marina não seguiu a rotina. Não preparou um lanche, não tomou banho e não sentou-se na cama para ler antes de pegar no sono. Sentou-se no sofá e permaneceu inerte durante alguns minutos, digerindo cada palavra articulada por Vitor. Espantava-se consigo mesma pela maneira como foi receptiva a ele, mesmo não o tendo olhado nos olhos. Mesmo assim pode perceber que era de um azul estranho, um azul turquesa tão claro e transparente, eram olhos de ressaca mesmo, mas ressaca de um mar muito limpo... Diferente dos seus, castanhos e um pouco turvos na cor.
Acabou pegando no sono, sem lanche e sem banho, ali mesmo, no sofá. Acordou pela manhã, com o celular já quase sem forças para despertar de tanto que já havia tocado. Olhou no relógio e viu que já estava atrasada para o estágio. A aula em que faz estágio começava às 7h e era 6h30. Levantou-se num pulo, ligou a cafeteira e entrou no chuveiro.

domingo, 11 de outubro de 2009

Itinerário Habitual - Parte III

Não se perca neste itinerário...

“Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois”
(Alberto Caeiro)


No dia posterior ao encontro dos olhares, Marina acordara com uma estranha sensação. Um estímulo para usar uma roupa mais bonita ou arrumar os cabelos de um jeito diferente. A garota nunca se importou em impressionar os outros com a forma que se vestia. Para ela, pouco importava se a achavam bonita ou não. Preferiu não fazer alarde e continuou com o habitual.

O dia passou rápido. Imersa em seus próprios pensamentos (‘Qual será o nome dele? ’), a garota passou a tarde no estágio e de lá fora direto para a faculdade. Enquanto o professor falava sobre realidade educacional, Marina se questionava sobre a própria realidade. Sempre soubera o que fazer em diversas situações, mas depois daquele encontro, não sabia se ainda teria coragem de pegar o mesmo ônibus, apenas para evitar um reencontro.

Dez e meia. Correu para a Rua da Consolação. Entrou no ônibus. Ele já estava lá. Vestia uma camiseta branca, bermuda e tênis sem meia. A barba estava por fazer. E os olhos, mais azuis do que antes. Mais uma vez, a garota desviara o olhar. Porém, sentou-se bem próxima ao rapaz.
Abriu seu Caeiro e fingiu ler. Ela queria ouvir mais uma vez o som daquela voz. Reparou nos braços do rapaz. Havia uma tatuagem no braço esquerdo. A essa altura, ela já imaginava ver o resto do desenho. Tentou se concentrar. Inútil tentativa.

‘Deixe de ser ridícula’, pensou. E de tanto pensar, perdera mais uma vez o ponto. Novamente desceu na Brigadeiro. O Rapaz desceu logo atrás. E se ela diminuísse o passo para ele acompanhá-la? E se ele achasse que ela fazia tudo aquilo de propósito?
Julgou-se mais uma vez sonhadora. A realidade um dia a pressionaria a tomar uma atitude mais sensata, mais real e menos fantasiosa.

De repente, ouviu uma voz: ‘Oi, tudo bem? Qual é o seu nome?’

Inerte, perante aquelas palavras, ela só conseguia admirar aqueles olhos. Agora, um pouco mais de perto...

domingo, 4 de outubro de 2009

Histórias da Avenida Paulista

É fato: todo paulistano tem uma boa história da Avenida Paulista pra contar. Histórias tristes ou engraçadas, divertidas ou trágicas, elas são pratos cheios para uma boa conversa de bar.
Mas de todas as histórias de Av. Paulista, as que mais me agradam são as histórias de amor (leia-se também de paixão platônica, de amasso, de romance...)

Certa vez presenciei um encontro inesperado entre dois jovens que não se conheciam até então. E, claro, a fabulosa Av. Paulista os uniu.

Era fim de tarde. A estação Consolação já começava a encher. Eu estava com pressa de chegar à faculdade cedo e nem percebi que os créditos do meu Bilhete Único haviam acabado. E todo paulistano sabe, não há nada mais infernal do que passar o cartão na catraca e perceber que não há créditos. Você fica com cara de idiota tentando girar a catraca.

Subi e fui à procura de um lugar para colocar créditos no Bilhete. Achei um local no Conjunto Nacional que, dentre as inúmeras atividades terceirizadas, colocava créditos no bendito Bilhete. A fila estava imensa. Havia dois jovens na minha frente. A garota tinha cabelos longos e escuros, usava salto alto e carregava processos nos braços (acho que era advogada) e tinha um ar de poucos amigos; O rapaz, mestiço e com ares de bancário.

De repente, o celular dela começou a tocar ao som de ‘Iron man’ do Black Sabbath. Os olhos do rapaz brilharam “Nossa, muito boa escolha. Você curte mesmo ou apenas acha bonitinho?” Ela, que esboçou um sorriso, mas manteve a postura, respondeu “Black Sabbath não é bonitinho, é pesado. E sim, eu gosto da música.”

Eu ri internamente. Decerto o rapaz tinha outra impressão da garota ou pensava que ela gostasse de micareta. Caíra do cavalo. Começaram a conversar. Aquela coisa onde você mora, o que faz, trabalha na Paulista?... Ela, mesmo discreta, não parava de falar. Estava empolgada. E ele maravilhado com a possível advogada que ouvia ‘Iron Man’.

A minha vez de ser atendida foi se aproximando, mas estava tão curiosa para saber o final daquele encontro inesperado que esqueci que estava com pressa. Umas das últimas palavras que eu ouvi foram: “Se você vir sempre para a Paulista, posso pegar seu telefone e combinamos de tomar um café qualquer dia desses.” A garota, se titubear, respondeu: “Por que não agora?” Adorei!

Há encontro mais paulistano que esse? Imprevistos, filas, o cotidiano como cenário principal. Será que um deles havia pensado em algo tão incomum quando saíram de suas respectivas casas naquele dia?

Foram embora juntos. Fiquei imaginando se os dois se dariam bem, se a química rolaria, se o romance engataria.

Quando sai do Conjunto Nacional, eles estavam no Café Viena. A conversa pelo visto renderia muitos cafés. Ela, não mais tão discreta, sorria sem parar. Ele, também. Acho que nem se lembravam do café.

E você? Tem uma boa história de Avenida Paulista pra contar?