quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Itinerário Habitual - parte IV

dê uma olhada no último ponto...

"Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?"
Tomás Antônio Gonzaga

Fingiu que não entendeu a pergunta, e retrucou:

- Você falou comigo?
- Sim, falei. Disse ele. Perguntei como você se chama.

O rosto de Marina ardeu em chamas, e ela jurou ter sentido o coração na garganta.

- Marina.
- Marilia?
- Não, Marina, com n!
- Oi, Marina-com-n! Tudo bem?
- Tudo!

Ela não quis perguntar “e você” para tentar não estender o assunto e ter que começar a falar de sua vida, onde mora, o que estuda, onde trabalha...

- Sabe, há um tempo que vejo você no ônibus, mas você não descia nesse ponto... Mudou de casa?

Com aquela pergunta, as chamas que queimavam o rosto, tranformaram-se em pedras de gelo na barriga. E Marina não sabia o que responder àquela pergunta tão...tão...

- Na verdade, me propus a andar um pouco mais, por isso deixo um ponto passar.
- E por que não desce um ponto antes?
- Porque acho a Av da Consolação um pouco escura demais, e tenho medo. Bom, vou ficar por aqui. Até logo!
- À propósito, Marina, o meu nome é Vitor. Foi um prazer te acompanhar até aqui! Boa noite!
- Boa noite, Vitor!

Marilia... ele a chamara de Marilia... aquela, de Dirceu...

Naquela noite, Marina não seguiu a rotina. Não preparou um lanche, não tomou banho e não sentou-se na cama para ler antes de pegar no sono. Sentou-se no sofá e permaneceu inerte durante alguns minutos, digerindo cada palavra articulada por Vitor. Espantava-se consigo mesma pela maneira como foi receptiva a ele, mesmo não o tendo olhado nos olhos. Mesmo assim pode perceber que era de um azul estranho, um azul turquesa tão claro e transparente, eram olhos de ressaca mesmo, mas ressaca de um mar muito limpo... Diferente dos seus, castanhos e um pouco turvos na cor.
Acabou pegando no sono, sem lanche e sem banho, ali mesmo, no sofá. Acordou pela manhã, com o celular já quase sem forças para despertar de tanto que já havia tocado. Olhou no relógio e viu que já estava atrasada para o estágio. A aula em que faz estágio começava às 7h e era 6h30. Levantou-se num pulo, ligou a cafeteira e entrou no chuveiro.

3 comentários:

Celso disse...

=D
legal

=]

Marcelo Mayer disse...

será que ele pega o onibus da manhã?

gipicles disse...

pensei o mesmo que o Marcelo... mas será que ele pega de manhã o mesmo ônibus que ela irá pegar? afinal, atrasada né!