quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ah, mas você quer ser professora?

.
.


- Você faz faculdade?
- Faço sim!
- De que?
- Letras!
- Letras?
- Sim, Letras!
- Mas você que ser professora?
- Quero! Por que?
- Nossa... (acompanhado daquela aquela cara de desdém, e desaprovação)

Sim, quero ser professora. Enfrentar uma sala de aula cheia de moleques e meninas sem educação, que não estão nem um pouco atentos ao que eu digo... Sim, quero fazer a diferença na vida de alguém. Sim, quero ensinar uma criança a mágica de ler e escrever.

Quando me perguntam o que eu estudo na faculdade, e eu respondo 'Letras', a opinião é dividida: alguns acham uma profissão nobre a de professor; outros, acreditam que não vale a pena. Estudar horrores para acabar à frente de uma sala de aula, ensinando, ou tentando ensinar um bando de adolescentes ou crianças aquilo que eles não fazem questão de aprender, e, ainda por cima, ganhando mal para isso.
Professor é, em alguns casos, uma profissão que não recebe o quanto é justo, estou falando de dinheiro. Mas o que as pessoas não entendem, é que o que se ganha sendo professor, é muito, mas muito mais valiosos do que qualquer dinheiro. Conhecer no início de um ano um grupo de alunos que mal sabem pegar um lápis, e, no fim do ano ver que eles são capazes de escrever seus próprios nomes, e algumas coisinhas a mais, é uma delícia!

- Mas você quer dar aulas em escolas particulares, né?

Pode ser. Hoje, em São Paulo, existem muitas escolas particulares, e muitas escolas particulares muito boas. É digno, mas acho, particularmente, muito mais digno, dar aulas no Estado ou na Prefeitura. Por que?
Quem tem a coragem de dar a cara a tapa nesse tipo de lugar? Escolas da periferia são esquecidas, e a frequência, na maioria das vezes, são de alunos com a família de pouca instrução. Educar quem já é educado desde sempre, pessoas de classe média/alta, que sempre tiveram de tudo, não vão às aulas com fome ou com frio, é muito fácil... Agora, vai ensinar o pessoal que não tem instrução, não tem interesse... É um trabalho lindo, fazer que as pessoas se encantem pelo conhecimento.

Sempre estudei em escolas públicas, e hoje, estou prestes a me formar na faculdade, coisa que a sociedade não 'bota uma fé' que aconteça.

Lembro-me da professora que me alfabetizou, a Lenilélia. Além de excelente pessoa, ela ensinou a mim e a muitas outras pessoas, que ir à escola não é sentar um atrás do outro, tirar o caderno da mochila e ficar lá, estudando... Aprendi com músicas, e muitos outros artifícios que deram supercerto. Além de aprender a ler e escrever, fazer continhas de mais e menos, aprendemos a respeitar as pessoas e conviver com diferenças...

Alguns bons anos depois, já no cursinho, tive a honra de ter aula com duas pessoas que foram cruciais na minha escolha, Dunder e Geovana. Literatura e Gramática. Dois professores sensacionais, que tem amor àquilo que fazem. Dão aulas porque realmente gostam e sentem prazer.

Professores não são tão bem remunerados quanto advogados, empresários ou médicos. Mas com certeza, esses advogados, médicos e empresários são o que são, graças aos professores que tiveram ao longo da vida. Professor é a única profissão que permite que todas as outras profissões sejam possíveis.

Fica aqui, meu eterno agradecimento a todos os professores que eu já tive.

Feliz dia dos professores!
Letícia Aracil

2 comentários:

Camila M. disse...

Ah, Dunder e Geovana! Fizeram a diferença em minha vida também. Saudades das encenações do Dunder.

Tenho um conhecido que sabe sobre meu desejo de ser professora. Todas as vezes que nos encontramos, ele diz: "Não faça isso com sua vida" e eu respondo: "Vá a merda!"

Diego Fávero disse...

Ahhhh meu sonho é dar algo tb!! Passar pra frente o conhecimento =)*